quinta-feira, 17 de junho de 2010

Filme brasileiro retrata trabalho de agente de imigração em aeroporto JFK

Do portal Comunidade News


“Olhos Azuis”, de José Joffily, mostra imigrantes barrados no Aeroporto JFK.


Muitos imigrantes devem se identificar com o enredo do filme “Olhos Azuis”, do cineasta brasileiro José Joffily, 64. A história, que tem atores brasileiros e estrangeiros no elenco, mostra imigrantes num aeroporto serem impedidos de entrar nos Estados Unidos. 


O enredo mostra o último dia de trabalho de Marshall (David Rasche), chefe da imigração do Aeroporto JFK de Nova Iorque. Na esperança de deixar uma lição para os subordinados, detém arbitrariamente um grupo de latinos que sonhava entrar nos Estados Unidos. A partir daí, cria-se um verdadeiro duelo entre “olhos azuis” e “olhos negros”. 


A inspiração de Joffily nasceu num documentário, onde a pedagoga americana Jane Elliot propõe aos americanos (olhos azuis) conhecerem na prática as dores de pertencerem a uma minoria (olhos negros). Depois disso, Joffily hospedou em sua casa um amigo que foi interrogado num aeroporto de Nova Iorque e deportado. 


Por telefone do Rio de Janeiro, José Joffily disse que as histórias contadas pelo amigo também o inspiraram. Na opinião dele, o sul-americano que viaja para o primeiro mundo passa muitas vezes por constrangimentos. “De maior ou menor gravidade, nos serviços de imigração”, disse ele. Segundo Joffily, o filme passeia por esta questão. “Você viajar e ser detido no aeroporto para averiguações”. 


Joffily acredita que Marshall represente o pensamento do americano médio, aquele que vive no interior dos Estados Unidos . “Entra muito a imaginação da gente com relação à história”. Segundo o cineasta, o agente de imigração é absolutamente sincero com o que ele pensa. “A democracia americana tem isso de espetacular, eles exercem o pensamento de direita ou de esquerda”. 


As manifestações vistas por Joffily, quando morou em Nova Iorque na década de 60, foram um verdadeiro encantamento para ele. Relatos de amigos e conhecidos de Joffily ajudaram a compor a história.


Depois de um desfecho trágico no aeroporto JFK, Marshall vai para o Brasil. Em busca de perdão atravessa o nordeste, guiado por Bia (Cristina Lago), uma bela garota que transforma a vida do americano. A atuação rendeu à brasileira o prêmio de Melhor Atriz no Festival Paulínia 2009, onde Irandhir Santos também foi premiado como Melhor Ator Coadjuvante.


Paraibano de João Pessoa, José Joffily é diretor, roteirista, produtor e eventualmente ator. Atuou em “Bete Balanço” e na novela “Kananga do Japão”, e ganhou o Kikito de Ouro no Festival de Gramado em 1996 por “Quem Matou Pixote?”, categorias Melhor Filme, Argumento/Roteiro. Por “Olhos Azuis”, foi premiado com A Menina de Ouro no Festival de Paulínia 2009.


A força imigrante


Sobre os Estados Unidos, disse que o país é formado por imigrantes, assim como o Brasil. “Os imigrantes é que são a força econômica do país. A força dos Estados Unidos é a imigração”. 


O time de atores de “Olhos Azuis”, composto também por cubanos, argentinos,  hondurenhos, contribuiu muito para a qualidade do filme, segundo Joffily. A questão da imigração, de acordo com o cineasta, é muito evidente. “Ninguém em sã consciência, ninguém sinceramente poderá dizer que não há uma reação dos Estados Unidos contra o imigrante”. Para ele não há o mocinho e o bandido. “Todos são mocinhos e todos são bandidos”. 


Em um filme produzido por um americano, Joffily viu guatemaltecos cruzando a fronteira mexicana. “É um filme muito violento”. 


De acordo com Joffily, os atores americanos – David Rasche, Erica Gimpel e Frank Grillo - tiveram grande contribuição na construção dos personagens de “Olhos Azuis”. “Criticavam muito o texto”. Isto deu bastante veracidade às situações do filme. Durante as filmagens, o diretor fazia uma mesa redonda com todos os atores. O filme foi todo feito no Brasil, com uma reprodução o mais fiel possível da sala do aeroporto JFK, onde os imigrantes são interrogados. 


Sobre o imigrante brasileiro nos Estados Unidos, Joffily disse que existem tanto pressões quanto condições favoráveis para a permanência dele no país. “Ele sabe que anda na rua muitas vezes, em algumas cidades, e é identificado como o antagonista, como alguém não desejável. Por outro lado tenho certeza que o imigrante aí convive com a experiênca muito boa de levar uma vida normal, no país que escolheu para viver. Certamente não é só sofrimento, só chateação, preconceito”. 


O cineasta tem curiosidade de saber a reação das pessoas, ao ver o filme. No Festival Brasileiro de Cinema de Paris, David Rasche e Irandhir Santos dividiram o prêmio de Melhor Atuação Masculina. Nos Estados Unidos, “Olhos Azuis” foi exibido no festival de Berkshire (NY) e no Cine Fest Petrobras Brasil-NY. O filme percorre ainda Miami, Vancouver e Toronto (Canadá), Israel e Londres. A crítica e o público brasileiros aplaudiram o filme. 


Atualmente Joffily está adaptando a peça “Mão na Luva”, de Oduvaldo Vianna Filho. A direção é em conjunto com Roberto Bontempo e as filmagens serão em Belo Horizonte (MG). 

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